Você pensa que morar fora é puro glamour? Não é não, mon amour!
Reflexões

Você pensa que morar fora é puro glamour? Não é não, mon amour!

Morar fora é puro glamour? Viiixi… Se você é desses que pensa assim, que acha que todo mundo tem rios de dinheiro e mora com vista para o Big Ben, a Torre Eiffel ou a Times Square, sinto te decepcionar: não é assim não, mon amour!

Existem aqueles que realmente vão morar fora e conseguem ter uma vida tranquilona, dinheiro sobrando todo mês na conta, um emprego dos sonhos, só comem em restaurantes chiquérrimos e tudo mais. Normalmente estes já chegam no país de destino com um trabalho garantido ou são diretamente transferidos pelas empresas… Mas a maior parte das pessoas não vive nesse conto de fadas no exterior.

São milhares (talvez milhões) de expatriados que vivem dividindo quartos com estranhos, que aceitam ganhar até menos que salário mínimo e vivem dos chamados “subempregos” fazendo faxina ou lavando pratos. Até que ponto isso compensa? Só a pessoa sabe dizer, baseado na vida que ela tinha no Brasil antes de ir morar fora e dos objetivos de vida que ela tem.

O tipo de emprego não faz a pessoa e ter um emprego considerado “ruim” hoje, não é indicativo de que será assim sempre. Ninguém É um garçom, ele ESTÁ sendo garçom naquele momento. O lindo de Londres é isso: muita gente chega como garçon e se estabelece, anos depois, como um dono de empresa ou executivo (em outras cidades eu não sei dizer se existem estas oportunidades).

 

morar fora trabalho duro

 

A verdade é que, mesmo quem tem um emprego bom e mora relativamente bem, não vive nesse glamour todo que todo mundo imagina. A vida é como a de qualquer outra pessoa que vive em qualquer outro lugar, incluindo no Brasil. É trabalho pesado e todo mundo tem problemas e divertimentos, assim como você aí que está lendo este texto.

Brasileiros são muito acostumados a ter ajudantes em casa (ou “empregadas” – não gosto de usar essa palavra), babás, a ir ao salão de beleza fazer as unhas e depilar, etc. Morando no exterior, essas coisas são bem mais difíceis de acontecer… É raro encontrar uma faxineira fixa que vá limpar e arrumar sua casa duas vezes por semana e fazer as unhas em salão pode custar uma pequena fortuna, então o que acontece é que nós mesmos limpamos nossas casas, cuidamos dos nossos filhos e nos arrumamos sozinhos. Alguns brasileiros jamais conseguiriam imaginar uma vida sem ajuda, não é? E isso nem faz parte da “falta de glamour” à qual me referi no texto.

Antes de mostrar alguns números, vale explicar que subemprego é considerado: pessoas que trabalham com limpeza, lavando pratos, como garçons, fazendo cafés, como entregadores ou até mesmo, como motoristas de taxi e com construção civil. Também vale dizer que aqui ninguém se julga com base no tipo de trabalho que o outro faz. Todos os empregos são nobres e necessários e uma faxineira pode ter tantas oportunidades quanto um executivo (com as devidas proporções, obviamente), o que diminui significativamente a desigualdade social.

Mas vamos às estatísticas e fatos relativos ao perfil dos imigrantes no Reino Unido e Europa (sejam eles brasileiros ou não):

  • Migration Advisory Committee fez um estudo em 2016/2017 e constatou que mais de 870.000 cidadãos de outros países da União Européia trabalham em subempregos em Londres;
  • Cerca de 60% dos trabalhadores em subempregos, vem de outros países fora da União Européia (como o Brasil), e somam mais de 1.2 milhões de pessoas;
  • A maioria dos imigrantes trabalha em vendas em lojas, hotéis, restaurantes e limpeza;
  • Os destinos europeus preferidos por brasileiros para imigrar são: Reino Unido, Espanha, Portugal, Alemanha, Itália, França e Bélgica;
  • Estima-se que mais de 200.000 brasileiros vivem no Reino Unido.

Estes dados não têm relação com nível de estudos das pessoas e sim com o tipo de emprego delas. Algumas publicações ainda dizem que, mesmo pessoas bastante qualificadas, com níveis altos de estudos, também trabalham em subempregos no Reino Unido. É o caso de muitos brasileiros que resolvem deixar o país para tentar uma vida melhor aqui e acabam tendo que trabalhar em subempregos até melhorarem a fluência no inglês ou conseguirem qualificação na Europa para terem empregos melhores.

Vários destes, ganham apenas o suficiente para se manter no país ou até têm mais de um emprego para conseguir pagar suas contas. Muita gente trabalha o dia inteiro, pega outro serviço de madrugada e finais de semana e quase não tem descanso. Pode ser bacana morar fora, mas não tem nada de glamour, não… É ralação, trabalho pesado, muito suor e muitas lágrimas.

Alguns anos atrás, o Daniel do blog Ducs Amsterdam escreveu o ótimo “Da relação entre limpar seu próprio banheiro e abrir sem medo um Mac book no ônibus“. E é isso. A gente se vira e faz tudo sozinho, incluindo limpar as nossas próprias privadas, muita gente se mata de trabalhar nesses tais subempregos que são tão nobres quanto a carreira de um executivo, mas em contrapartida, temos a segurança de poder andar com o celular na mão na rua sem morrer de medo pensando no que pode acontecer.

Observação: Isso não significa que a violência e os crimes não existam em outros lugares fora do Brasil. Significa apenas que a proporção e o nível de agressão são bem menores. Aqui na Europa nós lidamos com ataques terroristas. Nos Estados Unidos, lidam com atiradores malucos. Obviamente existem furtos e assaltos, mas salvo raras excessões, acontecem de forma não violenta, o que faz com que eu diga aqui que, de forma geral, a segurança é bem maior na Europa (ou mais precisamente, em Londres, onde vivo e conheço bem).

Fora isso tudo, só sabe os perrengues que passa e a tristeza, solidão e saudade que sente, quem resolve largar tudo para trás e ir tentar recomeçar como imigrante. Tem dia que não é fácil, que a vontade de desistir é grande e nesses momentos, não tem nada de glamouroso não, viu. Tudo o que a gente quer é estar perto de quem a gente ama, falando a nossa língua, sem nenhuma dificuldade na comunicação.

 

a solidão de se morar fora

 

Tire de cabeça que porque alguém mora fora, a vida dele é boa e fácil. Não é! O país onde a gente escolhe morar, não determina se a nossa vida vai ser mais fácil ou difícil do que a de quem nasce e morre no Brasil sem nunca sair de lá. Muitas vezes a força de vontade e a persistência, é que vão ditar como vai ser o seu futuro… Seja na Europa, nos EUA ou no Brasil.

Talvez o maior glamour de se morar fora, seja poder ter estes “pequenos” luxos do dia a dia, como a segurança e qualidade de vida no geral. Mas daí a ser chique e rico como todo mundo pensa… Ah, aí já são outros mil e quinhentos, viu!

 

E se você quiser saber mais sobre a vida em Londres e sobre ser expatriado:

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04 Comments

  1. ADRIANA MAGALHAES ALVES DE MELO

    ADOREI a reflexão. Tenho pensado muito em morar fora, mas teria que abrir mão de alguns luxos, como alguém pra limpar sua casa e cozinhar pra você e etc, e também tem o lance da saudade de amigos e família. Temos que pesar os prós e contras, né? Mas viver sem medo da insegurança daqui deve ser bom também.

    19/02/2018 Responder
    • Luiza Ferrari

      Tudo tem o lado positivo e o lado negativo, né? Mas tem gente que acha que morar fora não tem nada de ruim, quando na realidade isso está longe de ser verdade.

      19/02/2018 Responder
  2. Tania Neiva

    O problema é que no Brasil, os serviços como diarista, babá, etc são muito desvalorizados e qualquer um consegue pagar. Por isso tem gente que fica muito mal acostumado de pagar pra fazer tudo. Mas quem tá acostumado a limpar sua própria casa, cuidar dos seus filhos sem ajuda de babá, cuidar do seu jardim, etc, não vai ter um grande choque quando chegar na Europa, onde é normal uma pessoa ser auto suficiente na vida doméstica. Quem tá acostumado a se virar no Brasil, não vai sentir diferença e até tem maior chance de se dar bem. Mas quem não sabe nem cozinhar a própria comida, ou tem que rever os seus conceitos ou volta para o Brasil, pra continuar terceirizando parte da sua vida às custas de mão-de-obra barata.

    26/09/2019 Responder
    • Luiza Ferrari

      É bem assim… eu não senti diferente nesse aspecto, pq sempre fiz tudo sozinha. Nem ir a salão de beleza eu ia, eu mesma pintava as unhas e tudo mais.
      Mas não é nem só isso o caso, né. Tem muuuuita coisa diferente. A maioria tem que aceitar fazer trabalhos “inferiores” ao que faziam no Brasil, por exemplo.

      11/10/2019 Responder

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